1. Cadê a vírgula?
Volta e meia, acontecem campanhas ou manifestações para as quais a vírgula
nunca é convidada: “Reage Rio”, “Vota Brasil”, “Acorda Lula”, “Cala boca Galvão”
Deveria ser: “Reage, Rio”; “Vota, Brasil”; “Acorda, Lula”, “Cala boca, Galvão”.
Quer saber por quê.
Não é difícil entender. Você já deve ter ouvido falar da famosa regrinha que diz ser
proibido separar por vírgula o sujeito do predicado. A explicação é simples: se pusermos
vírgula entre o sujeito e o verbo, o sujeito vira vocativo.
Em “Dr. Carlos Pimenta vem à reunião”, temos uma afirmativa. O Dr. Carlos Pimenta
é o sujeito da forma verbal “vem” (=presente do indicativo).
Em “Dr. Carlos Pimenta, vem à reunião”, temos agora um chamamento, um convite
ou uma ordem. O Dr. Carlos Pimenta é um vocativo e a forma verbal “vem” está no
modo imperativo.
Quando dizemos “O leitor de O Globo sabe mais”, não há vírgula porque “o leitor de
O Globo” é o sujeito do verbo “saber”. Em razão disso, na propaganda “Quem lê sabe”,
não deveríamos usar vírgula, pois “quem lê” é sujeito.
Nesse caso específico, quando os verbos ficam lado a lado, há autores que aceitam a
vírgula entre o sujeito e o predicado. Eu prefiro não criar exceções. Assim como em
“Quem avisa amigo é” e “Quem bebe Grapete repete” não há vírgula, em “Quem
lê sabe”, “Quem estuda passa” e “Quem se desloca recebe” também devemos evitar
a vírgula. Se o problema anterior é polêmico, no caso das campanhas e das manifestações
não há perdão. Ninguém está afirmando que o Rio reage, que o Brasil vota, que o Lula
acorda ou que o Galvão cala a boca. O verbo está na forma imperativa e a seguir está
o vocativo. A vírgula é obrigatória: “Reage, Rio”; “Vota, Brasil”; “Acorda, Lula”; “Cala
boca, Galvão”.
Será que as campanhas e manifestações fracassaram porque esqueceram a vírgula?
2. Se beber, não use o ponto e vírgula
Em frente ao Hospital Pinel, no Rio de Janeiro, há um painel luminoso da CET-Rio.
Com certa frequência, lá encontrávamos a seguinte mensagem:
“Se dirigir; não beba
se beber; não dirija”
Certamente o hospital não tem culpa alguma. Louco ou bêbado estava quem escreveu
a tal frase. Não pela mensagem em si, mas pela pontuação da frase. Provavelmente
alguém disse para o autor: “Olha, tem um ponto e vírgula aí.” E o “letrado”, por
garantia, tascou logo dois.
Ora, onde encontramos o ponto e vírgula bastaria a vírgula, pois se trata de uma oração subordinada adverbial condicional deslocada: “Se dirigir, não beba”. O uso do ponto
e vírgula seria perfeito entre as duas ideias, apontando, assim, uma pausa maior que
a vírgula:
“Se dirigir, não beba; se beber, não dirija.”
É para isso que serve o ponto e vírgula: para indicar uma pausa maior que a vírgula
e não tão forte quanto o ponto-final.
Portanto, o autor da frase acaba de perder 3 pontos na sua carteira de habilitação, por
ma infração média contra a gramática.
Para que serve o ponto e vírgula?
Fundamentalmente, o ponto e vírgula indica uma pausa maior que a vírgula.
Vejamos as situações em que o seu emprego é mais frequente:
1a) para separar os membros de um período longo, especialmente se um deles já
estiver subdividido por vírgula:
“Na linguagem escrita é o leitor; na fala, o ouvinte.”
“Nas sociedades anônimas ou limitadas existem problemas: nestas, porque a incidência
de impostos é maior; naquelas, porque as responsabilidades são gerais.”
2a) para separar orações coordenadas adversativas (=porém, contudo, entretanto) e
conclusivas (=portanto, logo, por conseguinte):
“Ele trabalha muito; não foi, porém, promovido.” (indica que a primeira pausa é
maior, pois separa duas orações)
“Os empregados iriam todos; não havia necessidade, por conseguinte, de ficar alguém
no pátio.”
3a) para separar os itens de uma explicação:
“A introdução dos computadores pode acarretar duas consequências: uma, de natureza econômica, é a redução de custos; a outra, de implicações sociais, é a demissão de
funcionários.”
4a) para separar os itens de uma enumeração:
“Deveremos tratar, nesta reunião, dos seguintes assuntos:
a) cursos a serem oferecidos, no próximo ano, a nossos empregados;
b) objetivos a serem atingidos;
c) metodologia de ensino e recursos audiovisuais;
d) verba necessária.
FONTE: www.g1.com.br ( PROFESSOR SÉRGIO NOGUEIRA)
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