Arte, esporte e envolvimento comunitário garantem os maiores Idebs do país
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Oficinas de músicas, jogos de futebol, gravações de curtas-metragens e pesquisas de campo. Promover essas atividades e trazer a comunidade para participar foi a receita das três escolas melhor classificadas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) — que mede a proficiência dos alunos em português e matemática e a taxa de aprovação — para alcançar os primeiros lugares.
“O currículo é estipulado pelo MEC [Ministério da Educação] e é sempre o mesmo para todas as escolas. O diferencial é como ele é trabalhado, se inclui, por exemplo, artes, música, esportes”, avalia José Carlos de Souza, diretor da escola de aplicação da Universidade Federal de Pernambuco. O colégio foi o primeiro colocado no Ideb para a segunda etapa do ensino fundamental, alcançando nota 8,0 em uma escala de zero a 10. A média nacional foi 4.
O colégio oferece aulas de música, artes e oficinas de cinema. “As escolas de aplicação foram criadas para implantar uma metodologia diferente do ensino mecânico”, conta o diretor. Além disso, a escola tem 45% dos professores com título de mestre e 32% de doutor. As salas têm, no máximo, 30 alunos. A estrutura é estendida para a comunidade em oficinas de música e esportes para outras escolas e para os moradores da proximidade.
“Aqui aprendi a tocar flauta e pandeiro e agora estudo percussão”, conta Aline Dourada, aluna da 6ª série, de 11 anos. “Eu vejo que muitas escolas de amigos meus não oferecem música, artes e francês para os alunos”, conta Aline, que estuda há dois anos na instituição.
As aulas de música que atraem Aline também fazem sucesso entre os alunos da escola carioca D. Pedro II, segundo lugar no Ideb entre a 5ª e a 8ª série, alcançando 7,6 pontos. O colégio público, que completou 172 anos e possui 14 unidades, oferece também aulas de desenho, além de grupos de estudo de ciências sociais e literatura. Ao todo, 85% dos professores são mestres ou doutores.
“A unidade do bairro do Realengo surgiu da vontade de comunidade”, conta a diretora de ensino do colégio, Ana Cristina Cardoso. “Os alunos ajudam a manter uma biblioteca digital frequentada pelas pessoas de fora da escola, além disso, nos articulamos com empresas e universidades para que os alunos desenvolvam projetos de iniciação científica e para recebermos estagiários de licenciatura”.
A aluna Rachel Goulart, que tem 15 anos e está no primeiro ano do ensino médio, lembra que ano passado fez as provas de Português e Matemática do Ideb. “Foi até fácil. Todo conteúdo já tinha sido trabalhado na aula”. Na escola, Rachel faz aulas de latim e um estágio na Fundação Getúlio Vargas. “Depois do colégio pretendo estudar em uma das universidades federais do Rio ou fora do Brasil”, planeja.
Mesmo sucesso, outra estrutura
Há cerca de 300 quilômetros dali, no município carioca Cambuci, a pequena escola estadual Oscar Batista conquistou o terceiro lugar no Ideb com uma estrutura menor que as duas primeiras, mas com ações parecidas. O colégio, que teve nota 7,4, articulou um projeto com a comunidade para combater a evasão e para incentivar os alunos nos estudos.
“No último Ideb [divulgado em 2007] ficamos abaixo da média nacional. Aí reunimos uma equipe de educadores para visitar a casa dos alunos e conversar com os pais para impedir a evasão”, conta a diretora do colégio, Maria José Braga. Além disso, a escola promove projetos de conscientização ambiental, campanhas contra a dengue e apresentações de teatro e cinema para a comunidade.
“O município é muito pobre. Não temos muitas opções de lazer, por isso os alunos e os moradores valorizam muito as atividades promovidas pela escola”, conta a diretora. “Os vídeos são produzidos pelos próprios alunos, em uma oficina que a escola oferece. Eles já fizeram um filme com ex-usuários de drogas da comunidade e os convidaram para assistir”, lembra.
O aluno Walter Augusto, de 15 anos, é coordenador das oficinas de vídeo e de teatro e organizou a construção de uma videoteca na escola. “Estamos cadastrando um acervo com DVDs e fitas. Vamos fazer um cadastro para que os alunos possam levar os materiais para casa”, planeja. Walter também é o vice-presidente do grêmio estudantil, organizado há dois meses como uma das maneiras de atrair os alunos para a escola.
Ele conta que sempre estudou no Colégio Oscar Batista e que ano passado, quando ingressou no 1º ano do ensino médio, conseguiu uma vaga em um colégio federal. “Como era muito distante tive que desistir da vaga, mas gostei da ideia de voltar para essa escola. Gosto muito daqui”, conta. “É uma escola pequena, mas bem equipada. Temos laboratórios de informática, física, biblioteca e agora nossa videoteca”, conta.
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