Baixa escolaridade mantém país no
"top 10" da desigualdade mundial,
avalia economista da FGV
Gilberto CostaDa Agência Brasil
Em Brasília
A baixa escolaridade da população brasileira mantém o país entre as dez nações
mais desiguais do mundo. “Ainda estamos no top 10 da desigualdade mundial”,
afirma o economista-chefe do Centro de Políticas Sociais vinculado à FGV
(Fundação Getulio Vargas), Marcelo Côrtes Neri.
Análise publicada pelo economista na última sexta-feira (10) mostra que desde
1996 há redução do índice de Gini. O indicador, que mede a concentração de
renda (quanto mais perto de 1, maior a desigualdade), caiu de 0,6068, naquele
ano, para 0,5448, em 2009.
Apesar da queda, o índice brasileiro é superior ao de países como os Estados Unidos
(em torno de 0,400) e da Índia (0,300); e está próximo ao de nações mais pobres
da América Latina e do Caribe e da África Subsaariana. “Saímos do pódio, mas ainda
estamos entre os mais desiguais”, aponta o economista.
Segundo Marcelo Neri, para diminuir a desigualdade é preciso que a renda das
classes mais baixas continue crescendo; que se mantenham programas sociais
focados na população mais pobre; e, sobretudo, que o Estado amplie a oferta de
educação de mais qualidade e as pessoas permaneçam na escola.
O sociólogo e cientista político Simon Schwartzman, presidente do Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), assinala que “a educação no Brasil é muito
ruim” e que há um “excesso de valorização” da escolaridade, o que explica a grande
diferença salarial entre quem tem curso superior e quem não tem nenhuma formação.
Para ele, o desempenho educacional “não tem melhorado muito” e, portanto, nos
próximos dez anos o quadro de desigualdade permanecerá.
Para o gerente da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, Cimar Azeredo, o Brasil tem “mazelas que não
se desfazem de uma década para outra”. Ele citou a diferença entre a renda de homens
e mulheres, brancos e negros. “O passivo é muito grande. Somos há muito tempo um
país desigual.”
O estatístico e economista Jorge Abrahão de Castro, diretor de Estudos e Políticas Sociais
do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), confirma que o país ainda vive
“as sequelas do passado” demonstradas, por exemplo, na última Pnad, que, além da
desigualdade perene, indica que um em cada cinco brasileiros com 15 anos ou mais tem
menos de quatro anos de estudo.
De acordo com a Pnad, o percentual de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos na escola
em 2009 era de 97,6%. Na avaliação dos especialistas, a permanência dessas crianças
na escola resultará em melhoria de renda no futuro.
Para Marcelo Neri, da FGV, a chamada nova classe média brasileira, com mais de 95
milhões de pessoas, é formada por crianças e adolescentes que entraram e permaneceramna escola nos anos 90, quando houve universalização do acesso ao ensino.
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