Tempo médio de estudo do brasileiro não chega aos 8 anos do ensino fundamental
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Em 2009, o tempo médio de estudo dos brasileiros com mais de dez anos ficou em 7,2 anos, menos que os oito necessários para concluir o ensino fundamental, obrigatório no país. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio (PNAD), divulgada na última quarta-feira (8/9), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O quadro é preocupante. Não conseguimos nem garantir o ensino fundamental II, que dirá toda educação básica, que vai até o ensino médio”, avalia o especialista em Educação de Jovens e Adultos, Roberto Catelli, da organização não governamental Ação Educativa. “Existem documentos internacionais assinados [sobre conclusão da educação básica] que temos dificuldade de cumprir”.
Falta de renda das famílias pobres e trabalho infantil são dois dos principais motivos responsáveis pela baixa escolaridade dos brasileiros, para o especialista. “A faixa em que começa a evasão está entre 12 e 14 anos. São alunos que saem da escola para trabalhar pela necessidade de ganhar dinheiro, em um emprego que muitas vezes é ilegal devido à idade”, conta.
Outro problema, principalmente para o ensino médio, é a falta de perspectivas com relação ao estudo. “O jovem pobre não se forma para entrar na universidade e nem para o trabalho. A chance de evadir é muito grande”, avalia Catelli.
O tempo médio de estudo é menor entre quem tem mais de 60 anos, ficando em 4,2 anos. “A sociedade precisa assumir o envelhecimento da população”, avalia a professora da Universidade de São Paulo (USP), Maria Clara Di Pierro, especialista em alfabetização e educação de adultos. “Assim, a população idosa não participa da expansão de oportunidades e de renda”.
A menor média de tempo de estudo está na Região Nordeste, que apresentou seis anos em 2009, seguida pela Norte, com 6,7 anos. Segundo a professora, o analfabetismo e a baixa escolaridade são mais presentes nas regiões pobres, principalmente nas rurais e de difícil acesso. A Região com mais tempo de estudo é a Sudeste, com 7,8 anos, seguida pela Sul, com 7,6 e pela Centro-Oeste, com 7,5.
Analfabetismo
Em 2009, 9,7% dos brasileiros eram analfabetos, o equivalente a 14,5 milhões de pessoas. O total é 0,3% menor que o registrado em 2008, segundo os dados da PNAD.
“No Brasil, o percentual de analfabetos vem caindo de maneira muito lenta ao longo do século 20. Porém, os números absolutos só começaram a diminuir a partir do ano 2000”, afirma Maria Clara Di Pierro. “Há uma teoria que conforme os analfabetos envelhecem, é mais é mais importante alfabetizar os jovens. Mas, é importante atentar que quem não sabe ler teve seus direitos educativos violados e tem direito de aprender”.
“A alfabetização não é prioridade para os investimentos públicos, tanto que mesmo reduzindo a pobreza, o Brasil não reduziu o analfabetismo significativamente”, analisa. “Temos que sempre começar do zero, com campanhas de divulgação e professores com baixa formação”.
Solucionar o problema requer articular políticas públicas de saúde e geração de renda com a escola, segundo Maria Clara. “É preciso pensar em uma política integral, com atividades de cooperativismo ou capacitação profissional. O modelo essencialmente escolar não é atrativo”, conclui.
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