Vamos entender de uma vez a letra do hino nacional
Acho a letra do hino nacional bonita e solene. Hino tem que ser assim: tem que ter palavras de bela sonoridade, como disse o Roberto Pompeu de Toledo. E, também, cai bem a um hino ter versos na ordem indireta. Então, vamos conferir o nosso. Durante todo o meu tempo de estudante, infernaram a minha vida pra eu dizer qual era o sujeito da oração no primeiro verso do hino. Tinha gente que achava que o sujeito era oculto. Ora, para o sujeito ser oculto, era preciso ter uma crase no as antes das margens plácidas. Ou seja, os sujeitos ocultos leriam ouvido o brado retumbante ali, às margens do rio. Mas, como não houve e nunca imprimiram o hino com tal crase, dá pra gente ver que a oração não está na ordem direta. Direta, ela seria assim: “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico”. Pronto, é isso que o poeta disse. Mas, dito assim, cadê a sonoridade poética.
Bem, explicando isto já fica mais fácil entender as intenções do hino, embora muita gente não consiga entender como as margens de um rio pode ouvir alguma coisa. A gente sente que o poeta está se referindo poeticamente a quem estava por ali, vivendo às margens do riozinho (que devia ter mais água naquele tempo). E eles ouviram o grito (brado) que ressoa, que ecoa, que retumba (retumbante) que foi o grito de D. Pedro I bradando: “Independência ou Morte.”
Livres que ficamos do domínio português, o sol da liberdade brilhou no céu da pátria em raios luminosos, cheios de luz (fúlgidos). O Penhor, que vem a seguir, referindo-se à igualdade que a liberdade nos proporciona quer dizer garantia.
Mais lá na frente tem um impávido colosso. É isto mesmo, o Brasil é um colosso, enorme, belo, forte, corajoso, sem medo (impávido).
Depois vem o famoso “Deitado eternamente”. Tem idiotas que acham que quem está deitado eternamente é preguiçoso. Ô, burrice! Deitado aí e a tal liberdade. Deitado quer dizer estendido. Só que se o poeta usasse a palavra estendido (que é menos sonora do que deitado) o verso ia ficar de pé quebrado. Teria uma sílaba a mais (em poesia tanto faz uma sílaba a mais ou a menos que o pé do verso quebra). O Brasil não tem desertos, não tem terras totalmente inférteis, terras que não possam ser recuperadas. Nosso país é lindo, são belas as nossas montanhas, os chapadões, as florestas, tudo verde, lindamente verde. Todo o país é um berço esplêndido onde a natureza deita a mais bela das paisagens. Pronto. Tá explicado o deitado.
Fulgurar todo o mundo sabe o que é: brilhar. Florão é um ornato, um belo enfeite que se coloca no alto dos grandes portões, uma espécie de escudo em forma de flor: o belo Brasil é que orna, enfeita, embeleza toda a América
O poeta que escreveu a letra do hino acha que o Brasil é terra mais louçã (pode procurar no dicionário), mais alegre, mais famosa (garrida) do mundo.
“Brasil, de amor eterno seja símbolo” a bandeira tremulante (lábaro) que exibes (ostentas) cheia de estrelas estrelado. “E diga o verde-louro” (amarelo) desta bandeira (flâmula), “paz no futuro e glória no passado.”
Ah, sim: temos aqui um belo detalhe: de todas as letras de hino que pesquisamos na internet, só o hino alemão e brasileiro tem a palavra amor. E o hino do Brasil é também um dos únicos que não fala em vingança e nem quer beber o sangue do inimigo que, embora seja feito de seres humanos como os autores dos hinos, são sempre pessoas de sangue impuro, como na famosa Marselhesa, uma das letras mais rebarbativas de quantas pesquisamos.
Bobeou com o brasileiro, diz nosso modesto hino, a gente levanta (ergue) o tacape ou o porrete (clava) forte e, enfrenta até a morte para não fugir da luta em defesa da pátria. Como diz o Hino do Soldado brasileiro, a gente vai pra guerra “bem contente e feliz”.
Tudo bem, mas para terminar, podemos dizer aos nossos autores de hinos: “Menos, poeta! Menos!)
HINO NACIONAL BRASILEIRO
Parte I
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
Parte II
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra, mais garrida,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores."
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
Letra: Joaquim Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manuel da Silva
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