Brasil é o país que mais desperdiça aula com bronca
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo, no Rio
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Os professores brasileiros são os que mais desperdiçam com outras
atividades o tempo que deveria ser dedicado ao ensino.
No período em que deveriamestar dando aula, eles cumprem tarefas administrativas (como lista de chamadae reuniões) ou tentam manter a disciplina em sala de aula (em consequência do
mau comportamento dos alunos).
A conclusão é de um dos mais detalhados estudos comparativos sobre
as condições de trabalho de professores de 5ª a 8ª séries de 23 países,divulgado ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico).
A pesquisa foi feita em 2007 e 2008. O resultado não surpreendeu Roberto de Leão,
presidente daConfederação Nacional de Trabalhadores em Educação.
"Não li a pesquisa, mas é fato que muito do tempo do professor é roubado por tarefas
que não deveriam ser dele. Ele precisa muitas vezes fazer a função de psicólogo, pai ou
assistente social, já que todos os problemas sociais acabam convergindo para a escola."
Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do movimento Todos Pela
Educação, conta que, quando foi secretário de Educação em Pernambuco,
vivenciou isso na prática.
"Fizemos uma pesquisa com o Banco Mundial que mostrou que boa parte do tempo
do professor era para resolver questões que deveriam ser de responsabilidade de
outros profissionais. Mas também detectamos que se perdia tempo com o professor
falando de outros assuntos, em vez de tratar do conteúdo daquela disciplina."
O relatório da OCDE mostra que a maioria (71%, maior percentualregistrado) dos
professores brasileiros começou a dar aulas sem ter passado
por um processo de adaptação ou monitoria.
A média dos países nesse quesito éde 25%.
Os brasileiros também são dos que mais afirmam (84%) quegostariam de participar
de cursos de desenvolvimento profissional. Esse percentual só é maior no México (85%).
As informações foram colhidas em questionários respondidos pordiretores e professores
de escolas (públicas e privadas) selecionadas por amostra.
No Brasil, 5.687 professores responderam ao questionário, aplicado em
2007 e 2008.
Leão e Ramos concordam com o diagnóstico de que poucosprofessores passam por um
processo de adaptação.
"Muitas vezes, o secretário tem que preencher logo as vagas após um concurso para não
deixar alunos sem aula. É como trocar o pneu do carro em movimento, quando o ideal
seria ter um tempo para preparar melhor o profissional que começará a dar aulas", diz Ramos.
Esse problema se agrava com a constatação na pesquisa de que os professores brasileiros trabalham com turmas com número de alunos (32) acima da média (24).
Apenas no México, na Malásia e na Coreia do Sul essa relação é maior.
Eles também têm menos experiência em sala de aula do que a média--só 19% dão aula há
mais de 20 anos; a média de todas as nações comparadas é36%.
Estão abaixo da média (89,6%) ainda no nível de satisfação com o
trabalho: 84,7%, o quarto menor índice.
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Diretores
A pesquisa investigou a visão dos diretores sobre problemas que afetam o aprendizado.
O Brasil fica acima da média em questões como absenteísmo de docentes, atrasos e falta
de formação pedagógica adequada.
Também foram listados problemas relacionados a alunos, como vandalismo, agressões ou trapaças no momento da prova.
A indisciplina se mostrou um problema mundial. Na média dos países, 60% dos diretores afirmaram ter, em alguma medida, distúrbios em sala de aula provocados pelo problema.
O México tem o maior percentual (72%); o Brasil tem exatamente o índice da média.
Diretores brasileiros foram dos que mais relataram ter pouca ou nenhuma autonomia
para contratar, demitir ou promover professores por seu desempenho em sala de aula.
No Brasil, só 27% disseram que podem escolher os professores. A média dos países é de 68%.
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FONTE: http://www.folha.com.br/ (FOLHAONLINE)
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