sexta-feira, 5 de junho de 2009

MEDIOCRIDADE ETERNIZADA ...

Escolas e professores eternizam a mediocridade

Por Engel Paschoal

Túlio tem 12 anos e cursa a sétima série do ensino fundamental numa escola pública da cidade de São Paulo. Na mesma escola, mas na sexta série, está a irmã dele, Teresa, 10 anos.

Rosineide, a mãe, 36 anos, empregada doméstica, completou no ano passado o supletivo. Em vias de se separar do segundo companheiro, que não é o pai dos seus filhos, ela foi chamada dia desses para uma reunião na escola.

Túlio foi criticado porque tem notas muito baixas, como 1 de história e 2 de português, apesar de 9 em artes e 7 em matemática. E tem andado na companhia de um colega considerado mau elemento.

Por sua vez, com todas as notas entre 4 e 5, Teresa foi elogiada.

Escolas avaliam a nota, não o potencial
A mãe ficou arrasada por Túlio, a quem já castigou outras vezes com surras de cinta. Com baixíssima autoestima, o filho vive sem perspectivas.

Teresa teve o ego um pouco inflado, pois "está muito melhor que o irmão", na visão de todos. Dela, inclusive.

O incrível é que ninguém vê o potencial de Túlio. Eu aposto nele e não na irmã. Com 9 em artes e 7 em matemática, poderia ser incentivado a empreender uma radical mudança. Não só de aprendizado, mas de vida. A começar por mudar de amigo.

Até porque, se os responsáveis se preocupassem em descobrir qual a afinidade de Túlio com quem leciona artes e matemática, certamente achariam o caminho. Como escola e professores ignoram o que existe por trás de alguém que aprecia artes e, ainda por cima, raciocina, exigência da matemática?

Aumentariam a autoestima dele, a mãe deixaria de acha-lo medíocre e a irmã teria alguém para se espelhar.

Carro na mão de sem carta
Escolas e professores brasileiros de modo geral têm dado mostras de que educação não é prioridade deles. Invoco a inteligência e a sensibilidade do atual secretário de Educação do Estado de São Paulo. De capacidade reconhecida, ele bem que poderia lançar as bases de um novo modelo educacional para professores e alunos: um que ensine a raciocinar e que prepare as pessoas para a vida real.

É inadmissível a seqüência das descobertas de livros impróprios distribuídos aos alunos. Mas até parece que São Paulo serviu de exemplo, porque outros Estados tiveram que fazer o mesmo.

Em São Paulo, foram uns 10 livros, sendo cinco de uma única vez, implicando milhares de exemplares - a que custo? - totalmente inadequados, até por conteúdo erótico ou tom irônico.

Quero deixar claro que sou contra qualquer censura. Mas, no caso, os alunos não têm condições de discernir o que é ironia e realidade, por exemplo, pelo baixíssimo nível de educação que recebem. Não concordo com os que condenaram o recolhimento dos livros, reclamando o direito de acesso a tudo. Teve até quem dissesse que desde os seis anos lê todo tipo de livro. Provavelmente, por causa de pais bem diferentes dos de Túlio e Teresa.

Será que essas mesmas pessoas dariam um carro na mão de um sem carta de habilitação?

Ocorrem-me três possíveis respostas para essa enxurrada de livros errados: incompetência, suborno ou boicote. Quais as credenciais dos responsáveis pelas escolhas? Haveria alguém levando dinheiro? A febre de dossiês e maracutaias pré-eleitorais já acomete os baderneiros de plantão?

O duro é que os nomes que usei são fictícios. Mas os fatos e as consequências, infelizmente, não.

* Com Lucila Cano

FONTE: portal uol educação ( clickaprenda)

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