Entenda por que a prova do Enem poderá ser comparada à do ano anterior
MEC passará a usar outra metodologia na elaboração do exame.
Uma das formas é repetir ao menos 20% das questões.
Fernanda Calgaro Do G1, em São Paulo
Candidatos participam de processo seletivo (Foto: Daigo Oliva/G1)
A mudança no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), proposta pelo Ministério da Educação (MEC) , não será somente no número de questões, de 63 para 200, além da redação. A adoção de outra metodologia na elaboração da prova vai permitir que o desempenho dos alunos na prova possa ser comparado ano a ano.
Com isso, será possível acompanhar a evolução do ensino e evitar até que algum candidato saia prejudicado por ter feito uma prova mais difícil do que o seu concorrente, já que muitas universidades aceitam a nota do Enem dos últimos dois anos. O Enem também deverá cobrar mais conceitos e não ficar só nas questões contextualizadas, sua marca registrada.
No modelo atual, mesmo que se tente manter o mesmo nível de complexidade, o grau de dificuldade do exame é variável, então, não é possível dizer com precisão se o resultado dos estudantes melhorou ou piorou porque são coisas diferentes sendo comparadas. Por essa teoria, chamada de clássica, a quantidade de acertos é levada em conta e não o que o candidato acertou. Ou seja, em linhas gerais, a preocupação é quantitativa e não qualitativa.
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No novo formato, será usada a teoria de resposta ao item (TRI). O foco é no item, como é chamada cada questão, e não no total de acertos. A teoria é o conjunto de modelos que relacionam uma ou mais habilidades com a probabilidade de a pessoa acertar a resposta.
“Existem vários modelos que podem ser usados. Uma das possibilidades é repetir pelo menos 20% das questões da prova de um ano ao outro. Como parte das perguntas será a mesma, consegue-se saber se os acertos dessas questões aumentaram ou não”, afirma Dalton Andrade, professor titular do Departamento de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Referência na área, ele participou do grupo que elaborou o Enem em 1998.
As questões que serão repetidas de um ano para o outro são escolhidas de acordo com orientações dos avaliadores. Em matemática, por exemplo, pode-se repetir uma questão de cada área, como trigonometria e geometria, para que sejam medidas habilidades diferentes.
Outro modelo é colocar questões calibradas, como são chamadas as perguntas previamente testadas. Provas com diversas questões são aplicadas a um grupo de pessoas. Conforme as respostas obtidas, a questão é colocada numa escala de proficiência.
Escala de proficiência
Cada exame, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) , tem a sua escala de proficiência, que é como se fosse uma régua. Cada ponto da escala funciona como um indicador do que e do quanto a pessoa sabe sobre a habilidade avaliada naquela questão.
Uma pergunta de português, por exemplo, pode avaliar se quem responde sabe estabelecer relações entre imagens, gráficos e um texto. Outra analisará se essa mesma pessoa sabe relacionar causa e conseqüência entre partes do texto. A questão de múltipla escolha pode ter só uma resposta certa e as outras erradas ou uma certa, outra meio certa e as restantes erradas. Isso significa que, se a pessoa escolher a meio certa, a sua proficiência naquele assunto é parcial.
Então, de posse de um acervo numeroso, é montada uma prova só com questões calibradas. Outros exames, como o Toefl e o SAT , também usam essa mesma teoria. “Isso permite que várias pessoas façam as provas em momentos diferentes, pois elas são comparáveis”, afirma Andrade. “O desempenho numa prova depende de quais itens e não só de quantos a pessoa acertou.”
Comparação
O MEC poderá usar esses ou outros modelos da teoria no novo exame, que ainda está sendo elaborada. O resultado na prova do Enem só será comparável assim que tiver sido aplicada no novo formato por dois anos seguidos.
Segundo Andrade, a aplicação dessa teoria exige recurso computacional mais sofisticado. “Era possível usá-la no Enem antigo, mas seria algo muito complexo, já que as questões do Enem eram mais contextualizadas. Agora, com a mudança para cobrar mais conceitos e uma divisão por quatro grandes áreas, isso fica um pouco menos complicado”, avalia.
A teoria não se aplica à correção da redação, que é mais subjetiva. “Em geral, as redações são corrigidas por duas pessoas diferentes e, se há uma discrepância muito grande entre as notas, um terceiro avaliador corrige.”
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Agência Brasil - 27/04/2009 - 18:33
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