domingo, 26 de abril de 2009

TODO ou TODO O... QUAL A DIFERENÇA?

"Todo" e "todo o": sentidos diferentes

Por Thaís Nicoleti

"Nela, quase toda a canção de letra triste era arranjada para virar bolero."

"No fim das contas, todo mundo perde."

No português do Brasil, a presença ou ausência do artigo que antecede o substantivo precedido do pronome indefinido "todo" (e suas flexões) faz diferença. Havendo o artigo, o pronome assume o sentido de "inteiro" ("todo o dia" equivale a "o dia inteiro"); sem o artigo, o pronome assume a sua condição de palavra de sentido indefinido ("todo dia" equivale a "todos os dias", "um dia após o outro").

Não é difícil observar que o redator dos fragmentos acima confundiu um caso com o outro. Pretendia dizer que quase todas as canções de letra triste recebiam arranjo próprio de bolero. Não se refere, por óbvio, à totalidade de uma canção, mas a todas as canções do repertório de certa cantora popular, que, segundo ele, obedeciam a uma fórmula instrumental.

No segundo caso, a confusão é generalizada. Muita gente emprega a expressão "todo mundo" sem o artigo acreditando estar, dessa maneira, indicando que se refere a todas as pessoas. Ora, é a presença do artigo (não a sua ausência!) que confere à construção a ideia de totalidade: "todo o mundo" equivale a "o mundo inteiro", ou seja, em sentido figurado, todas as pessoas.

Para evitar confusão, observe que a estrutura composta com artigo permite a mobilidade do pronome indefinido, que pode ficar depois do substantivo sem prejuízo do sentido original da frase. Assim, é perfeitamente possível dizer que o mundo todo perde, mas não há sentido em dizer que a canção toda era arranjada de determinada maneira. Quando o artigo é necessário, é possível usar o pronome depois do substantivo. É só testar. Veja, abaixo, os fragmentos corrigidos:

Nela, quase toda canção de letra triste era arranjada para virar bolero.

No fim das contas, todo o mundo perde.

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